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Qual o papel de um animal no tratamento das doenças psíquicas?


Quem tem um animal de estimação sabe o quanto é impossível calcular o valor de seu carinho e atenção, em especial naqueles dias em que não sentimos ser o melhor de nós mesmos. E, essa dedicação incondicional já é notada e estudada há séculos.


A história conta que a primeira intervenção terapêutica assistida por animais aconteceu na Inglaterra, no ano de 1792, em um asilo psiquiátrico. E, desde então, os benefícios dessa relação têm sido cada vez mais estudados e descritos pelos especialistas.


Animais terapeutas têm se provado eficientíssimos no auxílio ao tratamento de diversos transtornos psiquiátricos, e não apenas a depressão. Esta, logicamente é daquelas que mais chamam atenção pelo seu histórico e abrangência, afinal foi descrita quatro séculos antes de Cristo por Hipócrates, pai da medicina, e hoje a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que afete mais de 300 milhões de pessoas no mundo. E, que uma a cada cinco pessoas apresentem a doença em alguma fase da vida.


Portadores de transtornos de desenvolvimento (incluído o autismo), esquizofrenia e até transtorno bipolar são beneficiados com o contato com o animal. Nunca é demais lembrar que os animais são apenas mais uma forma de tratamento, adjuvante dos tratamentos convencionais, e não substituintes deles.


Existe uma diferença entre animais terapeutas e animais de companhia, estes que têm também seu lugar quando falamos de benefícios mais eficientes no caso da depressão, acredito eu.


Os animais terapeutas são treinados para determinada função e, por definição, fazem visitas para intervenções terapêuticas em hospitais, asilos, casas de repouso. Não moram com seus pacientes, e sim com seus donos (ou tutores para quem preferir). Este grupo pode “trabalhar” de duas formas distintas: a primeira delas é a Atividade Assitida por Animais (AAA), que, segundo a organização Delta Society – The Human-Animal Health Connection é definida por “envolver a visitação e recreação por meio do contato direto dos animais com as pessoas, propondo oportunidades de motivação afim de melhorar a qualidade de vida.” A outra e a Terapia Assistida por Animais, ou Intervenções Assistidas por Animais (TAA/IAA), que é definida pela mesma sociedade como a que “envolve serviços profissionas da área médica ou não, que utilizam o animal como parte do trabalho e tratamento.”


Já os animais de companhia têm a vida ao lado do paciente, que são também seu donos/tutores. Não são profissionais e por isso necessitam menos treinamento que os outros, mas mesmo assim é importante determinados treinamentos que falaremos à frente.


Na doença mental, em geral, mas em especial na depressão, a principal ação do animal, sendo o cão o mais estudado deles, é a de agir como facilitador/catalisador das relações, promovendo o estabelecimento e/ou fortalecimento dos vínculos interpessoais. Outras espécies têm seu valor como criadoras de vínculos afetivos ou mesmo que apenas como estímulo à criação de pequenas rotinas e responsabilidades.


Em alguns casos o animal vira estímulo para prática de atividades física e conseqüente liberação de endorfina.


Uma coisa já é considerada certa: pets têm a capacidade de reduzir estresse, ansiedade, pensamentos negativos, angústia e, claro, solidão. Há projetos até de, utilizando a capacidade dos cães de mimetizar os sentimentos do dono/tutor, evitar suicídios de pacientes susceptíveis pela monitoração do nível de estresse do animal.


Cães, gatos, cavalos e até pássaros podem fazer a diferença. Obviamente a cada condição tem uma demanda específica, considerando-se a doença e suas causas e, principalmente, a individualidade de cada pessoa. Afinal quanto mais próxima for essa interação, maior a liberação do hormônio ocitocina e maiores serão os ganhos do paciente.


A escolha do animal ideal para cada um depende intimamente de cada indivíduo. Se este é um amante de pássaros, apenas o compromisso de alimentá-los, limpar a gaiola, em alguns casos observá-lo cantar ou até mesmo ensiná-lo a isso (sim, isso existe) pode ser o higienizador mental necessário. O mesmo pode acontecer com um gato ou um jaboti. Os cavalos são animais conhecidos pela sua forte ligação com o homem, mas são muito caros de se adquirir e manter. Por oferecer todos estes benefícios a um custo menor e requererem maior atenção, os cães são os mais escolhidos para esta função.


Os cuidados necessários para se ter o benefício de um animal de estimação em casa na verdade se sedimentam na prevenção. No mais, este animal precisa ser livre de zoonoses (doenças que podem ser transmitidas entre homem e animal) e ter a sua saúde cuidada. Vacinas, vermífugos, parasiticidas e, principalmente, visitas regulares ao veterinário – recomenda-se uma por ano até os seis anos uma a cada seis meses para animais mais velhos – onde seu pet vai ser examinado (muitas vezes com exames complementares) e você será orientado sobre como mantê-lo sempre saudável. Assim você tem seu “terapeuta” por muito mais anos ao seu lado, e, ainda por cima, gastando menos.


Ao escolher um cão há muito que se levar em conta, observando três itens principais: saúde, temperamento e socialização. Geralmente o tamanho do animal deve ser avaliado também. Tudo isso, individualizadamente, pois pode variar muito de pessoa para pessoa, apesar de terem o mesmo diagnóstico clínico. Muitos preconizam a utilização de determinadas raças, mas na rotina clínica, o que vemos é que nem sempre isso é o segredo do sucesso. Vemos animais de raça que sofrem com deficiências muitas vezes genéticas que dão mais trabalho que retorno. Vemos cães de raças grandes em apartamentos em que literalmente não cabem. Vemos cães de raças pequenas (normalmente hiperativos) causando mais problemas que soluções para idosos solitários. Aliás, idosos com depressão senil, pelo que vemos na rotina da clínica médica, respeitadas as individualidades, são um dos grupos mais beneficiados pela interação com o animal.


O adestramento é sempre uma questão importante, e quando falo em adestrar não estou falando do “senta, deita, rola e dá a pata” que todo mundo pensa, mas sim fazer com que seu animal entenda você e você a ele, ou seja: comunicação. Essa é a chave para um animal que não vai te dar trabalho ao passear, tomar banho, tomar remédio, ir ao veterinário, andar de carro e tudo o mais que envolve a rotina dele e precisa ser feito de forma natural, mas que so funciona com uma boa comunicação. Para isso procure um bom profissional que entenda o que você quer e saiba te dar isto. Hoje em dia há uma boa safra de adestradores de animais que já entenderam o movimento deles do quintal para a cama do dono ou o sofá da sala, que tem o foco na comunicação e não mais no cão policial ou de guarda de antigamente. Que tem a maior parte (ou todo) seu trabalho baseado em reforços positivos.


Se o seu caso pode ser melhorado com o auxílio de um animal (e pros amantes de animais TUDO melhora com um ao seu lado), converse com o seu veterinário de confiança. Ele é a pessoa mais indicada para lhe orientar. Além disso, considere animais adultos, pois os filhotes, além de dar muito mais trabalho, ainda têm uma personalidade sendo moldada. O adulto vai lhe dar uma maior certeza da personalidade dele. Por fim, e mais importante, considere a adoção. Você estará salvando a vida dele, assim como ele a sua. Tem como ter laço maior (e melhor) que esse? E quanto maior os laços, maiores os efeitos! E aí, está esperando o que para procurar seu novo amigo?

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